“Meios disponíveis não podem baixar por causa de um dia de temperaturas baixas e sem ocorrências” |
Segunda-Feira, 30 de Julho de 2007 |
Rui Esteves, comandante do Centro Distrital de Operações de Socorro de Castelo Branco Pelo facto das condições atmosféricas terem sido atípicas para a altura do ano, o planeamento de meios nunca pode ser alterado em cima da hora, defende Rui Esteves |
Daniel Sousa e Silva - As condições atmosféricas que se têm verificado este ano estão a ajudar o trabalho dos agentes de protecção civil? - Sem dúvida que no concerne ao número de ocorrências por via de incêndio florestal há um factor preponderante, ou seja, as condições atmosféricas adversas. O período que antecedeu o presente teve condições para que os incêndios não se desenvolvam muito. Por um lado, as temperaturas têm sido baixas para esta altura do ano. Na última semana, rondaram os 20 e os 25 graus, sendo que a humidade relativa esteve entre os 40 e os 50 por cento. Para nós, protecção civil, estas são temperaturas agradáveis. É evidente que estas condições tivessem levado a que houvesse menor número de ocorrências e aquelas que existiram tiveram menos área ardida. Tudo isto fez com que não houvesse grande movimentação de meios. - De qualquer forma, justifica-se a continuidade de todos os meios operacionais para o combate a fogos? - O planeamento é sempre feito por quatro fases: Alfa, de 1 de Janeiro a 15 de Maio, Bravo, de 15 de Maio a 30 de Junho, Charlie, de 1 de Julho a 30 de Setembro, e Delta, a partir de 30 de Setembro até ao final do ano. Esse planeamento é sempre feito em função do pior cenário possível. Não se pode fazer um dado planeamento e só porque num dia houve temperaturas mais baixas, diminuímos o nível de operacionalidade. Tem de se manter como pensado inicialmente, porque os incêndios podem acontecer mesmo quando não existem condições atmosféricas favoráveis para a sua ocorrência. A acontecerem, temos de ter os meios necessários para que as áreas ardidas sejam cada vez menores. - Pela eventual criação de mais material combustível, a chuva que caiu recentemente pode também ter um efeito negativo? - Sempre que há um aumento de carga combustível de manta morta na floresta é preocupante. No entanto, essa situação verificou-se mais nos períodos de fase Alfa e Bravo, isto é, quando houve muita precipitação e temperaturas propiciadoras do desenvolvimento de pastos. Agora, basta um dia com algum vento e temperaturas altas para ficarem secos e poderem ser um grande constrangimento à actividade dos bombeiros. - Olhando para as corporações do distrito, que análise pode ser feita, nomeadamente em termos de número de bombeiros e meios disponíveis? - O dispositivo que está no terreno é aquele que todos os comandantes das corporações planearam. No caso da Covilhã, por exemplo, aumentou no sector humano de 10 para 15 homens, passando a ter três equipas de combate a incêndios florestais. Ou seja, a Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) cumpriu o objectivo de aprovar tudo o quanto lhe foi proposto. É evidente que existem sempre situações que queremos melhor ao nível dos corpos de bombeiros, nomeadamente de meios, substituindo alguns que estão obsoletos ou outros que, por circunstâncias várias, deixaram de estar disponíveis. - Por outro lado, tem havido uma grande preocupação na distribuição de equipamento de protecção individual... - Essa é uma outra questão. Houve uma grande preocupação do Governo, nos últimos dois anos, que era resolver o problema premente dos equipamentos de protecção individual. Em 2006 e 2007, o Governo completou em Castelo Branco o fornecimento de equipamentos a todos os bombeiros que estão no distrito. Todos têm meios suficientes neste campo e estamos a falar de botas, calças, óculos de protecção, capacetes e de luvas. Assim, cada homem que vai para o terreno pode ter condições de segurança. Só salva quem sabe, mas também só o faz quem tem condições para o fazer. No meu entender, essas condições estão reunidas por excelência. - No trabalho do CDOS, cada vez mais são utilizadas as novas tecnologias a favor do controlo de ocorrências. Está planeada a instalação de mais câmaras de vídeo-vigilância no distrito? - As quatro câmaras que existem fazem um trabalho de complementaridade com os postos de vigia. Estes devem manter-se e não ser substituídos na sua função de detecção de incêndio precoce. As câmaras permitem um acompanhamento do CDOS no que respeita às tomadas de decisão no envio de meios. Uma imagem vale sempre mais do que mil palavras. Ajudam a tomar a decisão certa no momento certo. Existem municípios que estão envolvidos em processos de instalação de câmaras, mas são sempre processos morosos. O ideal seria que o distrito tivesse mais 12 câmaras espalhadas por todos os concelhos. Sensibilização da população “Cultura de segurança não surge de um dia para o outro” - A prevenção é também uma das prioridades da ANPC. As campanhas de sensibilização têm surtido resultados? - A grande questão em todas as matérias relacionadas com protecção civil são sempre ganhas na prevenção. Esta deve ser privilegiada em relação a outras acções. No que concerne a acções de sensibilização e informação pública, considero que o CDOS de Castelo Branco tem feito um bom trabalho no sentido de dar a conhecer a toda a população os riscos, bem como as medidas de mitigação do risco e de auto-protecção. Para além da divulgação feita através dos órgãos de Comunicação Social, temos feito um bom trabalho junto das escolas no sentido de criar uma verdadeira cultura de segurança. Mas é óbvio que estamos longe de atingir aquilo que seria o ideal. São situações que têm a ver com comportamentos e não é fácil fazer-se esse trabalho de um dia para o outro. Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios “Os municípios fizeram um trabalho árduo e excelente” - Conhece os Planos Municipais de Defesa da Floresta Contra Incêndios do distrito? Considera que existem falhas? - Conheço, sim. É uma excelente ferramenta em termos de prevenção, porque identifica as áreas de maior vulnerabilidade, bem como as respostas para alguns dos problemas que surgem. Como em tudo na vida, há uma primeira fase. Todos os municípios do distrito cumpriram o objectivo de criar as comissões municipais neste âmbito e de elaborar os planos operacionais. Foi, sem dúvida, um trabalho árduo e excelente nessa perspectiva. Até aqui foi um passo de criar uma ferramenta de planeamento e virá um tempo de começar a aplicar esse trabalho de inventariação no terreno. Contudo, há que notar que esse é um trabalho moroso. - Como vê o ordenamento florestal da região? - Bem, essa não é uma competência da ANPC, mas sim do Ministério da Agricultura. No que respeita à avaliação feita pela ANPC e que tem a ver indirectamente com os incêndios florestais, registo com bom agrado a preocupação dos produtores florestais em se organizarem em Zonas de Intervenção Florestal (ZIF) para poderem melhorar a qualidade da floresta. Entendo que as ZIF são um passo positivo. Só é possível ter uma floresta protegida se esta estiver efectivamente ordenada e organizada. Futuro profissional “Estou disponível para trabalhar no distrito” - Está satisfeito com o cargo que ocupa? - Tenho desenvolvida esta actividade nos bombeiros e na protecção civil com muita determinação e a tempo inteiro. É algo que abracei desde o primeiro momento e que, em termos técnicos, me tenho esforçado para realizar o melhor possível com o objectivo de criar condições no distrito para que exista cada vez mais segurança. Queremos fazer sempre mais e melhor. O trabalho técnico que tem sido profícuo com o apoio de diversos agentes, desde as populações, à GNR, à Direcção-Geral de Recursos Florestais, PSP, Polícia Judiciária, Instituto de Meteorologia, Scutvias e Estradas de Portugal, incluindo todos os agentes de protecção civil, tais como os sapadores florestais e as autarquias. Trata-se de um trabalho que encaramos de forma afincada e positiva, na perspectiva de querer cada vez melhores condições para o distrito. No entanto, não está em causa uma pessoa, mas sim uma equipa. - Caso fosse convidado para outras funções dentro da ANPC, estaria disponível para aceitar? - Eu estou disponível para desenvolver actividades relacionadas com a ANPC no distrito de Castelo Branco. É uma área que conheço bem geograficamente, bem como em termos de risco e de planeamento. É aqui que quero continuar a desenvolver a minha actividade. Perfil Natural de Idanha-a-Nova, Rui Esteves tem 45 anos, é casado e tem dois filhos. A sua formação académica sempre se relacionou com a protecção civil e bombeiros, tendo pós-graduações em Gestão de Emergência e em Gestão Municipal de Protecção Civil. Foi comandante dos Bombeiros Voluntários de Idanha-a-Nova, comandante operacional dos bombeiros no distrito albicastrense, presidente da Federação de Bombeiros do Distrito de Castelo Branco e adjunto do gabinete do presidente da Câmara de Castelo Branco, Joaquim Morão. Diário XXI |
Posto de vigia do concelho de Mangualde um dos mais importantes do distrito de viseu e ainda ajuda no distrito da Guarda
segunda-feira, 30 de julho de 2007
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