terça-feira, 23 de novembro de 2010

Especialista critica ausência de programa de investigação sobre incêndios


Lusa

O investigador universitário Domingos Xavier Viegas defendeu hoje, em Coimbra, a criação de um programa nacional de investigação dos fogos e lamentou que a União Europeia não tenha também essa visão.

Em declarações à agência Lusa no final da 6.ª Conferência Internacional de Investigação em Fogos Florestais, Domingos Xavier Viegas frisou que os participantes consideraram necessário desenvolver um lóbi junto da Comissão Europeia nesse sentido. “Para dar mais relevo ao tema dos incêndios nos programas europeus”, justificou o presidente da comissão organizadora da conferência, ao expressar uma das conclusões dessa reunião científica.

Domingos Xavier Viegas, docente da Universidade de Coimbra e especialista em investigação sobre fogos, realçou que nas reuniões de especialistas europeus sobre riscos o tema dos incêndios “acaba por ser secundarizado” e as políticas muitas vezes são definidas por responsáveis provenientes dos países do Norte, em que este problema não tem o mesmo impacto.

A falta de uma estratégia definida num programa nacional e europeu acaba por deixar os investigadores dispersos, em função dos financiamentos que conseguem, “cada um a trabalhar por seu lado, a trabalhar nas coisas que pode fazer ou que gosta de fazer”, referiu.

“Não há grande esforço das autoridades para juntar esses esforços, desde logo estabelecendo programas, uma estratégia e linhas de financiamento que enquadrassem as pessoas a trabalhar umas com as outras”, sublinhou.

Na sua perspectiva, “é este passo que falta dar: por um lado, reforçar a comunidade científica em cada país e, depois, facilitar a ligação entre os vários países”.

Domingos Xavier Viegas realça que Espanha e França estão já a trabalhar nesse sentido, mas o caso que aponta como exemplo é o da Austrália, que após a catástrofe de 2003 criou um programa nacional e é hoje “uma das mais importantes comunidades científicas mundiais”.

“Eu gostava que na Europa houvesse uma estratégia, uma visão destas, mas infelizmente não é o caso. O caminho que se seguiu foi financiar projectos avulsos. Financia-se um projecto muito grande, mas tudo o que está fora deste projecto não tem apoio”, observou.

Sobre Portugal diz que é reconhecida a situação de crise, mas na sua óptica há também “um pouco falta de critério na selecção das prioridades”. “Ouvimos os governantes falar que vão ser comprados mais não sei quantos carros de bombeiros, vão ser feitos mais não sei quantos quartéis de bombeiros, e são centenas de milhões de euros que se gastam anualmente nisso. Não ponho a questão da necessidade desses recursos, mas se uma pequena percentagem disso fosse também investida na ciência talvez todo o sistema beneficiasse disso”, concluiu.

A 6.ª Conferência Internacional de Investigação em Fogos Florestais, que teve início na passada segunda-feira, reuniu em Coimbra cerca de 250 participantes oriundos de 38 países.

In ecosfera

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Programa de computador ajuda a prever fogos secundários‏

Os perigos associados aos incêndios florestais e os que podem resultar da deflagração de fogos secundários durante o combate às chamas pelos bombeiros, levou a equipa liderada por Domingos Xavier Viegas a desenvolver um programa de computador que ajuda a prever as áreas onde há maior risco de deflagrarem chamas secundárias, tendo em conta as características do local e as condições meteorológicas. O Spot Fire arrancou em 2009 e deve estar concluído no final de 2011.
"Os focos secundários podem agravar os perigos de um incêndio, aumentando a sua velocidade de propagação e colocar em risco a vida de pessoas ou bens", recorda Xavier Viegas, presidente da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI), onde está integrado o projecto liderado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra.
No Laboratório de Estudos sobre Incêndios Florestais, onde têm sido desenvolvidos trabalhos nesta área (ver texto secundário), a equipa começou por "estudar a libertação de partículas incandescentes por árvores ou arbustos".
"Utilizamos sistemas de aquisição e análise de imagens muito avançados, que nos permitem medir não apenas o número de partículas libertadas como o seu número e dimensão assim como as suas velocidades e trajectórias iniciais", explica Domingos Xavier Viegas.
E uma das conclusões é que a casca do eucalipto, das espécies mais perigosas num fogo, "pode percorrer, em determinadas condições, uma distância de cinco a sete quilómetros". Xavier Viegas diz que "as que caem mais perto são as que preocupam para já, pois são que têm maior probabilidade de provocar focos secundários".
Além desta análise, a equipa está "a estudar as propriedades de combustão de diversas partículas e as características aerodinâmicas, para poder compreender melhor o seu comportamento durante o transporte pelo vento". "Colegas nossos que desenvolvem modelos numéricos estão a trabalhar na integração dos dados, para simular a trajectória das partículas em diversas condições ambientais, tendo em conta a presença do fogo, vento e topografia, para prever o modo de combustão e a provável do seu impacto com o solo", frisa.
Além dos objectivos científicos de melhorar o conhecimento do problema, a equipa espera transmitir os conhecimentos às entidades operacionais. "E, a médio prazo, dotá-las de ferramentas de decisão mais fiáveis para um combate mais seguro dos incêndios", admite o coordenador do projecto. A meta é chegar a um programa de computador, mas o investigador da ADAI admite que "ainda faltam muitos passos". Mas destaca a importância "da colaboração com os bombeiros e as autoridades da Protecção Civil" no desenvolvimento deste e outros estudos.
Com um financiamento de 136 mil euros, a ADAI contou com o apoio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, que financiou o projecto a 100%. "Tem sido muito difícil obter apoio financeiro para estes estudos, da parte de entidades operacionais ou de empresas com actividades florestais ou afins", acrescenta.

Fonte: http://dn.sapo.pt/inicio/ciencia/interior.aspx?content_id=1704368