terça-feira, 14 de agosto de 2007

Quartel de V. F. das Naves e viatura para a Covilhã entre as preocupações



Presidentes das Federações Distritais de Bombeiros elogiam coordenação no combate aos fogos

António Antunes fala sobre Castelo Branco e Madeira Grilo sobre a Guarda, mas partilham a opinião de que, para além dos factores meteorológicos, os incêndios florestais têm sido menos prejudiciais devido à maior agressividade no combate e coordenação de meios
Daniel Sousa e Silva

António Antunes, presidente da Federação de Bombeiros do distrito de Castelo Branco
“A associação da Covilhã e a Autoridade Nacional de Protecção Civil devem procurar um entendimento” para adquirir nova viatura

- Como acha que está a correr a fase Charlie de prevenção de fogos florestais – a de maior risco – até ao momento?
- Esta fase, tanto no distrito de Castelo Branco, como no resto do País, tem estado calma. Isso deve-se a vários factores. Em primeiro lugar, as condições meteorológicas. Costumo dizer que São Pedro é o melhor ou o pior bombeiro que pode haver. Tem havido alguns dias de calor, mas compensados por outros dias com alguma chuva e baixas temperaturas. Este é um factor importante para não haver grande evolução dos incêndios que surgem. Um outro tem a ver com a melhoria do aspecto humano e com o crescimento do número de equipas heli-transportadas.
Por fim, existe o factor sorte. Ao contrário doutros anos, não tem havido incêndios em simultâneo, que obrigam à dispersão de meios.
- Como vê a coordenação de meios, muito criticada no passado?
- Tem havido uma atitude agressiva na mobilização dos meios. Antigamente, quando havia uma ocorrência fazia-se a chamada triangulação, isto é, o avanço de meios de três corporações. Agora, essa triangulação é superada. São enviados sempre mais meios pelo Centro Distrital de Operações de Socorro (CDOS) quando se nota que o fogo está a evoluir negativamente. Isto também acontece nas corporações, sendo accionados mais meios que no passado.
- A entrega de equipamento de protecção individual por parte da Autoridade Nacional de Protecção Civil aumentou a eficácia do trabalho dos bombeiros?
- Todos estão gratos pela entrega dos equipamentos de protecção individual, mas acho que não alteraram a actuação pela farda ser diferente. O que acontecia no passado é que corriam mais riscos. Contudo, a atitude continua a mesma.
- A formação e treinos práticos dos bombeiros estão a ser suficientes?
- Os corpos de bombeiros do distrito têm tido a preocupação de formar formadores no seu seio, de modo a que possam realizar-se acções de formação sem custos acrescidos. Posso dar o exemplo do Fundão que, em 2006, leccionou quatro cursos gratuitos de transporte de ambulância. Quanto a treinos, penso que tem havido um número razoável de simulacros.
- Deveriam existir mais bombeiros profissionalizados a trabalhar em conjunto com os voluntários?
- Existem planos nesse sentido por parte da Autoridade Nacional. A questão é que serão insuficientes. Em princípio, serão cinco elementos por corporação, só que existem várias com secções destacadas que também precisam desses elementos. É muito importante que, durante o resto do ano, existam sempre bombeiros prontos a sair ao minuto a qualquer ocorrência.
- Olhando para as corporações do distrito, quais são as carências, no que respeita a meios terrestres?
- O distrito já esteve pior do que actualmente. Mas, por exemplo, a Covilhã precisa de uma viatura de combate a fogos florestais. É uma situação que tem de ser resolvida, só que existe um braço-de-ferro entre a direcção da associação da Covilhã e a Autoridade Nacional de Protecção Civil, nomeadamente no que concerne ao valor da comparticipação para a compra do veículo. As duas instituições devem procurar um entendimento, porque este impasse não leva a lado algum.
- E ao nível de infra-estruturas?
- Conheço todos os quartéis do distrito de Castelo Branco e considerava que a grande lacuna existia na Sertã, mas já conseguiram inaugurar um bom quartel, com estruturas modernas e amplas. Se olharmos para o plano nacional, eu sei que existem quartéis que são autênticos “palheiros” quando comparados com os que servem o distrito.
- Quais são os planos futuros da Federação Distrital dos Bombeiros de Castelo Branco?
- A actual direcção ainda tem pouco trabalho desenvolvido porque as eleições foram quase em cima da época de fogos. Temos estado em contacto e esperamos arrancar com o trabalho em força a partir de Outubro. Existe uma reunião já marcada para Cernache de Bonjardim.

Madeira Grilo, presidente da Federação de Bombeiros do distrito da Guarda
Vila Franca das Naves: “o barracão onde vivem dá uma amostra de terceiro mundismo que não se pode tolerar”

- Como acha que está a correr a fase Charlie de prevenção de fogos florestais – a de maior risco – até ao momento?
- Nesta fase, o trabalho dos bombeiros está a correr bem, já que a actividade daqueles que estão em permanência tem sido facilitada pela ajuda da meteorologia. Os focos de incêndio têm sido debelados com rapidez. Não houve fogo que tivesse durado mais de cinco ou seis horas.
- Como vê a coordenação de meios, muito criticada no passado?
- De facto, houve no passado alguns casos preocupantes. Actualmente, a coordenação está a ser excelente. O sistema está mais rígido e sabe-se quem coordena quem, o que leva a resultados positivos. Do que tenho conhecimento, a intervenção dos bombeiros, quando accionado, tem sido rápida e eficaz.
- A entrega de equipamento de protecção individual por parte da Autoridade Nacional de Protecção Civil aumentou a eficácia do trabalho dos bombeiros?
- Tenho algumas dúvidas sobre isso. Penso que, antes de mais, é necessário que todos os bombeiros saibam manejar esses equipamentos. Existem algumas dificuldades, nomeadamente no accionamento da tenda de protecção.
- A formação e treinos práticos dos bombeiros estão a ser suficientes?
- Penso que nesse campo não nos podemos queixar. A formação tem acontecido regularmente, em quantidade e qualidade, tanto por iniciativa da Federação, como do Centro Distrital de Operações de Socorro e Escola Nacional de Bombeiros.
- Deveriam existir mais bombeiros profissionalizados a trabalhar em conjunto com os voluntários?
- Claro que sim. Com as dificuldades actuais a nível humano, penso que, pelo menos, as corporações de sedes de concelho e distrito têm de ter grupos permanentes de intervenção com profissionais. Este é o caminho necessário, apesar de se dever continuar a valorizar o trabalho dos voluntários.
- Olhando para as corporações do distrito, quais são as carências, no que respeita a meios terrestres?
- Nunca existem meios suficientes. Embora existam excepções, a grande maioria das corporações do distrito está apetrechada razoavelmente. Em Vila Franca das Neves, é necessária, o mais cedo possível, uma viatura de intervenção imediata e na Guarda não existe uma viatura que seja capaz de responder convenientemente se houver um acidente de viação com matérias perigosas. O envelhecimento de muitas viaturas é outra das preocupações.
- E ao nível de infra-estruturas?
- O caso de Vila Franca das Naves é o mais urgente. O barracão onde vivem dá uma amostra de um terceiro mundismo que não se pode tolerar. Há que não esquecer que essa corporação tem 70 operacionais que trabalham sem condições.
- Quais são os planos futuros da Federação Distrital dos Bombeiros da Guarda?
Tenho o objectivo de construir a sede da Federação em edifício próprio. Também continuo a manter o sonho de que seja criada a licenciatura em Protecção Civil no Instituto Politécnico da Guarda. A criação, juntando instituições nacionais e espanholas, de um observatório transfronteiriço de incêndios florestais e outras catástrofes é outra das grandes metas. DiárioXXI

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