domingo, 12 de agosto de 2007

Metade do que ardeu este ano era área protegida

Metade do que ardeu este ano era área protegida



ELSA COSTA E SILVA


Proporção foi a mais alta registada no conjunto dos países Europa do Sul
Os incêndios florestais pouparam Portugal no início deste Verão, mas, ainda assim, o País não conseguiu evitar que as chamas atingissem as áreas naturais protegidas. Do total de área ardida até 31 de Julho, cerca de 46% atingiram zonas da Rede Natura. Os dados pertencem ao Sistema de Informação Europeu sobre Fogos Florestais (EFFIS), um programa da Comissão Europeia (CE).

O primeiro relatório do EFFIS para 2007 assinala o período positivo que o País tem enfrentado, sendo um dos menos afectados dos cinco países da Europa do Sul tradicionalmente atingidos pelo drama dos fogos florestais. Melhor do que Portugal, que registou apenas 2810 hectares de área ardida em grandes incêndios, só o Sul de França, com 2091.

A situação foi particularmente grave em Itália, onde arderam mais de 86 mil hectares, e na Grécia, com 81 mil atingidos. Ainda assim, e proporcionalmente, os desempenhos, no que respeita a áreas protegidas, foram mais favoráveis: apenas 20% da área ardida italiana foram na sua Rede Natura e nos helénicos o valor só chegou aos 14,5%. Em Espanha, onde a situação foi menos dramática (com apenas 8544 hectares ardidos), só 21,5% afectaram zonas protegidas. Pelo que o comportamento português no combate a fogos florestais foi o menos eficiente no que diz respeito à salvaguarda das áreas protegidas. O DN tentou sem sucesso ouvir o Instituto da Conservação da Natureza, que tutela a Rede Natura, sobre esta matéria.

O EFFIS é um sistema de mapeamento, baseado em dados meteorológicos e imagens por satélite, que fornece dados sobre o risco de incêndio, bem como avaliações rápidas de danos causados pelas chamas, para áreas superiores a 50 hectares. Os mapas de risco são enviados diariamente aos serviços florestais e de protecção civil de cada Estado. O sistema foi desenvolvido pelo Centro Comum de Investigação, o braço científico da CE, e é coordenado por Paulo Barbosa, um investigador português a trabalhar nas instalações de Ispra (Itália).

Risco reduzido

Os mapas produzidos pelo EFFIS para Portugal mostram que, de facto, o País não enfrentou grande perigo em Maio e Junho, sendo que, nesse período, 2007 foi um dos anos com menor grau de risco desde 2002. O risco agravou-se ligeiramente na primeira quinzena de Julho, mas ainda assim manteve-se sempre em níveis de risco considerados moderados. Relativamente a outros Estados membros, apenas a França enfrentou menor perigo. A Espanha, que proporcionalmente à dimensão do país, teve uma situação semelhante a Portugal, enfrentou níveis de risco um pouco mais elevados. Curioso é o facto de Itália não ter tido uma situação de perigo muito diferente de Portugal e Espanha (apesar de uma área ardida de dimensão muito maior), contrariamente à Grécia, que, desde a segunda quinzena de Julho, viu o risco subir quase drasticamente.

Apenas 6,6% de 2002 a 2006

Até 31 de Julho, a área ardida em Portugal, com 5086 hectares, foi de 6,6% da média dos últimos cinco anos, segundo a Direcção-Geral dos Recursos Florestais. O valor é mais elevado do que o apresentado pelo EFFIS, já que não contabiliza apenas os incêndios que atingem mais do que 50 hectares. O melhor desempenho do País nesta matéria tem sido explicado pelas condições meteorológicas mais favoráveis e melhor organização da vigilância e combate. DN

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