quinta-feira, 9 de agosto de 2007

Maior risco de fogo chega dentro de um a dois anos



Maior risco de fogo chega dentro de um a dois anos

RITA CARVALHO

Especialistas dizem que melhorias deste ano se devem à meteorologia
As condições meteorológicas favoráveis e a melhor organização da vigilância e do combate aos incêndios explicam que a área ardida este ano seja só 6,6 % da média dos últimos cinco anos. É esta a opinião de dois especialistas ouvidos pelo DN. Contudo, José Cardoso Pereira, engenheiro florestal, deixa o alerta: as grandes manchas florestais consumidas em 2003 e 2005 ainda não estão em boas condições de voltar a arder. O perigo real chegará dentro de um ou dois anos.O especialista do Instituto Superior de Agronomia considera que não é na floresta que está a mais valia justificativa do inferior número de ocorrências e de área ardida deste Verão. "Até porque, de uma forma geral, a floresta está muito parecida com o que estava nos últimos cinco anos. O ganho obtido até agora não vem da reforma florestal, porque nessa área não se avançou tanto como devia", afirmou ao DN. Um dos exemplos é a rede de gestão de faixas de combustível, aceiros e caminhos que são limpos e abertos para compartimentar a mancha florestal e suster o avanço das chamas. "Ainda estamos ao nível da rede primária (caminhos principais) e, mesmo nessa, muito pouco foi feito", diz.Outro ponto que ainda não está a dar frutos são as zonas de intervenção florestal (ZIF), onde a partilha de responsabilidades entre proprietários permite uma gestão mais eficaz. "Uma coisa é criar ZIF, outra muito diferente é alterar a sua floresta", alerta. Duarte Caldeira, presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, considera também que as alterações estruturais ao nível da propriedade florestal são quase nulas.As condições meteorológicas favoráveis são a explicação mais consistente para a diminuição dos incêndios, considera o engenheiro florestal. Os dados do último relatório da Direcção Geral dos Recursos Florestais confirmam que Junho e Julho foram meses mais chuvosos e frios do que o habitual, principalmente no Norte. Além disso, o calor não se prolongou por muito tempo, sendo sempre interrompido por dias amenos.Melhorias no combateO reforço da vigilância e a melhoria do sistema de detecção estão a dar um forte contributo na redução dos fogos, considera Duarte Caldeira. A Liga diz que tem sido fundamental a presença no terreno de uma força da autoridade: a GNR, através do Serviço Especial de Protecção da Natureza e do Grupo de Intervenção, Protecção e Socorro. "Fazem vigilância visível, que leva as pessoas a reduzirem os comportamentos negligentes e até intencionais."Duarte Caldeira lembra ainda que a redução das ignições ajuda a uma maior organização das forças no terreno. E considera que houve progressos na coordenação institucional. "Há mais e melhor diálogo".Apesar das melhorias, até ao momento, o problema não está, de forma alguma, resolvido, alertam os dois especialistas. Cardoso Pereira diz mesmo que "os sistemas de combate ao fogo correm o risco de ser vitimas do próprio sucesso". Basta ver o caso da Galiza. O que era considerada uma região modelo, transformou-se num mar de cinzas. DN

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