Lusa
O investigador universitário Domingos Xavier Viegas defendeu hoje, em Coimbra, a criação de um programa nacional de investigação dos fogos e lamentou que a União Europeia não tenha também essa visão.
Em declarações à agência Lusa no final da 6.ª Conferência Internacional de Investigação em Fogos Florestais, Domingos Xavier Viegas frisou que os participantes consideraram necessário desenvolver um lóbi junto da Comissão Europeia nesse sentido. “Para dar mais relevo ao tema dos incêndios nos programas europeus”, justificou o presidente da comissão organizadora da conferência, ao expressar uma das conclusões dessa reunião científica.
Domingos Xavier Viegas, docente da Universidade de Coimbra e especialista em investigação sobre fogos, realçou que nas reuniões de especialistas europeus sobre riscos o tema dos incêndios “acaba por ser secundarizado” e as políticas muitas vezes são definidas por responsáveis provenientes dos países do Norte, em que este problema não tem o mesmo impacto.
A falta de uma estratégia definida num programa nacional e europeu acaba por deixar os investigadores dispersos, em função dos financiamentos que conseguem, “cada um a trabalhar por seu lado, a trabalhar nas coisas que pode fazer ou que gosta de fazer”, referiu.
“Não há grande esforço das autoridades para juntar esses esforços, desde logo estabelecendo programas, uma estratégia e linhas de financiamento que enquadrassem as pessoas a trabalhar umas com as outras”, sublinhou.
Na sua perspectiva, “é este passo que falta dar: por um lado, reforçar a comunidade científica em cada país e, depois, facilitar a ligação entre os vários países”.
Domingos Xavier Viegas realça que Espanha e França estão já a trabalhar nesse sentido, mas o caso que aponta como exemplo é o da Austrália, que após a catástrofe de 2003 criou um programa nacional e é hoje “uma das mais importantes comunidades científicas mundiais”.
“Eu gostava que na Europa houvesse uma estratégia, uma visão destas, mas infelizmente não é o caso. O caminho que se seguiu foi financiar projectos avulsos. Financia-se um projecto muito grande, mas tudo o que está fora deste projecto não tem apoio”, observou.
Sobre Portugal diz que é reconhecida a situação de crise, mas na sua óptica há também “um pouco falta de critério na selecção das prioridades”. “Ouvimos os governantes falar que vão ser comprados mais não sei quantos carros de bombeiros, vão ser feitos mais não sei quantos quartéis de bombeiros, e são centenas de milhões de euros que se gastam anualmente nisso. Não ponho a questão da necessidade desses recursos, mas se uma pequena percentagem disso fosse também investida na ciência talvez todo o sistema beneficiasse disso”, concluiu.
A 6.ª Conferência Internacional de Investigação em Fogos Florestais, que teve início na passada segunda-feira, reuniu em Coimbra cerca de 250 participantes oriundos de 38 países.
Nenhum comentário:
Postar um comentário