quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Apresentado método pioneiro para avaliar produtos de combate a incêndios florestais


Lusa

O catedrático Domingos Xavier Viegas destacou hoje a importância de uma metodologia pioneira de avaliação da eficácia dos produtos químicos na extinção dos incêndios florestais, apresentada por uma investigadora da Universidade Politécnica da Catalunha.

“Cada descarga [aérea] pode custar dezenas de milhares de euros”, disse o especialista em incêndios florestais da Universidade de Coimbra (UC), ao sublinhar a importância de um sistema que permita avaliar, em termos objectivos, a eficácia do uso dos retardantes no combate ao fogo. A metodologia, apresentada hoje na UC pela investigadora Eulalia Planas, do Centro de Estudos do Risco da “Universitat Politècnica de Catalunya”, foi testada com fogo controlado em parcelas do Parque Natural de Ngarkat, no Sul da Austrália.

Ainda em fase preliminar, a metodologia permite “medir quantitativamente uma série de parâmetros, avaliando a eficácia do ataque aéreo no combate aos fogos”, disse Eulalia Planas, no final da conferência que proferiu hoje no Departamento de Engenharia Mecânica da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra (FCTUC).

“Gasta-se tanto dinheiro com meios aéreos, é bom saber até que ponto é bem gasto. Em Portugal não há nenhum sistema que permita avaliar a eficácia destas descargas em termos objectivos”, salientou Xavier Viegas, presidente da Associação para o Desenvolvimento da Aerodinâmica Industrial (ADAI). De acordo com o professor catedrático da FCTUC, “poderá haver situações em que a eficácia não seja a desejada, ou porque não se está a usar os produtos adequados ou porque o lançamento não ocorre nos locais apropriados”.

“Como envolve milhões e milhões de euros, é de toda a importância haver uma avaliação envolvida”, defendeu Domingos Xavier Viegas. Na sua perspectiva, “em geral, em Portugal, há um bom uso dos produtos, mas a avaliação é subjectiva”, pelo que “um estudo deste tipo, feito por amostragem, talvez permitisse chegar a resultados mais objectivos e dar recomendações”. “É muito importante para os bombeiros e pilotos que fazem o ataque poderem quantificar o seu trabalho ou ver como podem melhorar”, frisou, por seu turno, Eulalia Planas.

Segundo a docente do Departamento de Engenharia Química da Universidade Politécnica da Catalunha, antes da criação deste modelo pioneiro de avaliação da eficácia dos retardantes no combate às chamas havia já alguns estudos experimentais, debruçando-se sobre factores como a dimensão das descargas ou a distribuição da concentração, mas não uma avaliação “no ataque directo, medindo todos os parâmetros”.

Sobre a avaliação da eficácia dos diferentes produtos químicos usados nas descargas aéreas, a cientista disse que, em termos quantitativos, ainda não foi possível chegar a conclusões. A conferência de Eulalia Planas deu-se a convite do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da ADAI. Ecosfera


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

«Reflorestar nem sempre é a melhor opção»


Francisco Moreira, do Instituto Superior de Agronomia, falou ao
«Ciência Hoje» sobre o projecto «Recuperação de áreas ardidas»
2009-09-30
Por Luísa Marinho




Francisco Moreira, do Instituto Superior de Agronomia
O que fazer com as grandes áreas que ardem durante o Verão continua a
ser uma questão que todos os anos levanta dúvidas e cria polémicas.
Para pensar sobre esta problemática e definir as melhores soluções foi
criado o projecto «Recuperação de áreas ardidas».

Com coordenação do Instituto Superior de Agronomia (ISA), este
projecto de investigação e formação envolve a Universidade de Aveiro
(UA) e a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). Ontem, a
UA recebeu Francisco Moreira, investigador do Centro de Ecologia
Aplicada Prof. Baeta Neves, do ISA, que transmitiu a técnicos
florestais alguns resultados das investigações que estão a ser feitas
neste âmbito.


Em conversa com o «Ciência Hoje», Francisco Moreira explicou que os
workshops que o projecto promove têm como objectivo “a transferência
de conhecimento dos centros de investigação para as pessoas que andam
no terreno”.

O programa, iniciado em 2006, actua em várias vertentes. Sublinha a
importância de um planeamento prévio, com o mapeamento das áreas mais
sensíveis, e investiga as melhores formas de se lidar com terrenos já
ardido.

“Muitas vezes, reflorestar nem sempre é a melhor opção”, considera,
contrariando a política que tem sido praticada nos últimos anos. “A
reflorestação tem a maior parte das vezes menos sucesso do que a
regeneração natural, que é mais rápida e não agride o solo”.


«A gestão das áreas ardidas é ainda parente pobre
do tema dos incêndios»
A retirada de todas as árvores ardidas não é também “aconselhável”,
afirma. Técnicas para diminuir a erosão do solo estão também a ser
estudadas.

Durante os quatro anos de implementação deste projecto, nos quais
foram ministrados diversos cursos de formação avançada e workshops,
não houve ainda, considera Francisco Moreira, “nenhum avanço
significativo”, a nível institucional, nesta área. “Infelizmente, a
gestão das áreas ardidas é ainda parente pobre no tema dos incêndios”,
lamenta, acrescentando que “as pessoas esquecem-se dos problemas que
podem existir nas áreas ardidas”.

“A implementação das ideias que transmitimos está muito longe de se
concretizar”, remata.