segunda-feira, 28 de abril de 2008

Número de meios para combater incêndios este ano é o maior de sempre

Número de meios para combater incêndios este ano é o maior de sempre*
26.04.2008
Lusa

O ministro da Administração Interna, Rui Pereira, defendeu hoje que o
País dispõe este ano do maior número de sempre de meios de combate aos
incêndios e lembrou que a luta contra os fogos florestais "dura todo o ano".

Na apresentação do dispositivo operacional de combate aos fogos
florestais do distrito de Aveiro, Rui Pereira recordou que estão este
ano afectos ao combate aos incêndios "56 meios aéreos, nove dos quais do
Estado, com o objectivo de garantir uma autonomia estratégica, 2300
viaturas e cerca de 9600 efectivos, correspondendo a mais meios do que
em qualquer outro ano".

Segundo o ministro da Administração Interna, "em resultado da profunda
reforma empreendida pelo Governo, a protecção civil tem hoje uma
doutrina clara em relação aos fogos florestais". "A luta contra os
incêndios dura todo o ano", enfatizou, afirmando que existe hoje uma
"doutrina consolidada sobre o ataque inicial, a programação prévia e os
fogos controlados", que define a prevenção estrutural como incumbência
da Direcção Geral dos Recursos Florestais, atribui a prevenção de
proximidade à GNR, e o combate aos corpos de bombeiros e sapadores.

Rui Pereira expôs as principais linhas da "profunda reforma" da
protecção civil empreendida pelo Governo: a aprovação da lei de bases, a
criação da Secretaria de Estado da Protecção Civil, a reformulação da
estrutura coordenadora através da Autoridade Nacional de Protecção Civil
e a unificação do comando operacional, em termos nacionais e distritais.

"Estamos aptos a promover a articulação em estreita cooperação com os
bombeiros voluntários e profissionais, com os sapadores florestais, as
forças de segurança, as Forças Armadas que também são agentes de
protecção civil, os órgãos de Justiça criminal e a sociedade civil",
afirmou.

*Proximidade entre bombeiros e protecção civil*

O governador civil de Aveiro, Filipe Neto Brandão, destacou por seu lado
"o ponto final na insustentável separação entre bombeiros e protecção
civil".

António Machado, comandante distrital de operações de socorro,
esquematizou o dispositivo distrital e a realidade a que tem de
responder, apontando como metas uma maior eficácia no combate aos
incêndios nascentes, redução da área ardida e dos reacendimentos, bem
como maior celeridade na detecção e ataque inicial aos fogos florestais.
Para um distrito com 2800 quilómetros quadrados, a que correspondem 163
mil hectares de floresta, com uma população de 713.568 habitantes (255
habitantes por quilómetro quadrado), "garantir a segurança, tanto dos
que combatem os incêndios como das populações é a primeira das prioridades".

O dispositivo distrital, na fase "Bravo" (15 de Maio a 30 de Junho),
compreende 26 equipas de bombeiros, com 130 elementos, sete equipas
logísticas de apoio ao combate, com 14 elementos, e um helicóptero, com
uma secção da GNR. Na fase "Charlie" (01 de Julho a 30 de Setembro) os
meios aumentam para 50 equipas de combate a incêndios, 24 equipas de
logística e um grupo de reforço a incêndios florestais, duplicando os
meios aéreos, com dois helicópteros, estacionados em Águeda e Vale de
Cambra. A fase "Delta" (30 de Setembro a 31 de Dezembro) tem um conjunto
de meios equivalente à fase "Bravo", contando ainda com o apoio da GNR e
de militares, de equipas do Instituto de Conservação da Natureza e
Biodiversidade, sapadores das associações de produtores florestais e
equipas municipais.

Ecosfera

segunda-feira, 7 de abril de 2008

O "desordenamento do território" é o maior "culpado" das grandes áreas ardidas

Faculdade de Ciências da Universidade de LisboaInvestigador diz que “desordenamento do território” é o maior culpado pelos incêndios florestais
31.03.2008 - 10h59 Lusa
O "desordenamento do território" é o maior "culpado" das grandes áreas ardidas todos os anos em Portugal, seguido da "incontrolável" meteorologia, de acordo com um investigador português da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa que desenvolveu um modelo de previsão dos fogos do Verão. Carlos da Câmara, do Centro de Geofísica daquela Faculdade, desenvolveu um modelo que consegue determinar como vão ser os meses de Julho e Agosto, que representam 70 por cento da área ardida de todo o ano, através da precipitação de Março e Abril e da temperatura de Maio e Junho. "O raciocínio é simples: imaginemos que Março e Abril são particularmente chuvosos, o que leva ao desenvolvimento do mato, e depois que Maio e Junho são meses secos, o que torna a vegetação seca e muito mais inflamável. O risco é muito maior", explicou o professor. De acordo com o climatologista, desde 1980 que as áreas ardidas têm vindo a aumentar, tal como o "desordenamento" do território, o que resultou nos anos "negros" de 2003 e 2005, em que arderam, respectivamente, 425.726 e 338.262 hectares de floresta e matos, segundo dados oficiais. "O clima é o bode expiatório dos políticos, porque é muito fácil dizer cada vez que há uma calamidade que é o El Niño ou o efeito de estufa. Quem tem culpa dos fogos somos nós, portugueses, que permitimos que o ordenamento do território em Portugal esteja desta forma. O problema não é deste ou daquele Governo, foram 40 anos de negligência colectiva", salientou. Segundo o professor, se o planeamento do território fosse maior, ajudasse ao combate aos fogos e o tornasse eficaz, esse ordenamento iria contrariar a meteorologia e o modelo não resultaria tão bem, como acontece, por exemplo, em Espanha. No país vizinho, segundo o especialista, "quando começaram a fazer ordenamento do território a sério, a meteorologia continuou a ser importante, mas deixou de ser o único factor" para a previsão e prevenção dos fogos. "Quando o ministro da Administração Interna disse que no ano passado ter ardido pouco foi devido aos meios de combate, eu discordo. Aquilo é puramente uma opinião e eu tenho um modelo físico-matemático que prova o contrário", salientou. Para o professor da FCUL, a questão é que Portugal aposta sempre no combate e nunca na prevenção, deixando "a meteorologia jogar o seu papel". "Nós e a Grécia somos o último laboratório da Europa onde se podem aplicar estes estudos porque a meteorologia continua a ter um papel muito importante", explicou. Para a próxima época de fogos, o investigador considera que é ainda "muito cedo" arriscar qualquer previsão, mas adianta que "em Maio já há dados importantes para a planificação". Este modelo de previsão dos fogos do Verão está inserido no projecto europeu Land-SAF, liderado pelo Instituto de Meteorologia. O projecto foi desenvolvido em colaboração com vários investigadores da faculdade, do Departamento de Engenharia Florestal do Instituto Superior de Agronomia, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e do Instituto de Meteorologia.